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Location: Portugal

Sunday, August 06, 2006

Simplesmente Maria

Quando eu morrer não quero lágrimas nem o cheiro pesado das flores à volta de mim, não quero que deitem o meu corpo inerte numa caixa de madeira com baixos-relevos de segunda, não quero o espectáculo de ser beijada ou posta a descoberto. Quando eu morrer não quero ser enterrada ao lado de um desconhecido num lugar desconhecido de uma cidade desconhecida e ser presenteada com flores ou velas tétricas e amarelas. Quande eu morrer quero desaparecer sem que ninguém me veja, sem que ninguém saiba, e que, do meu último suspiro só reste um certificado. Quero que dancem e que cantem, que queimem todos os meus pertences numa fogueira e que se desfaçam do meu corpo sem lhe tocarem. Quando eu morrer não quero que os que me amam se lembrem de mim com a pele branca, o corpo inanimado e o cheiro a morte. Quando eu morrer quero que se lembrem apenas de que vivi. Mas eu sei que tu querias assim, e assim foi.

1 Comments:

Blogger João Carlos Silva said...

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes —
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro...

(Mário de Sá-Carneiro - Paris, 1916)

12:34 AM  

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